Fernando Gazzaneo, do R7
Reprodução
Pacientes aguardavam atendimento médico em macas estacionadas no corredor de setor de emergências do Hospital São Paulo
Dezenas de macas espalhadas pelos corredores com pacientes e acompanhantes à espera de cirurgias remarcadas diversas vezes. Doentes com transtornos psiquiátricos vestidos apenas com fraldas, amarrados às macas e expostos aos outros internos. Muita falta de informação. Esse foi o quadro flagrado pelo R7 no Hospital São Paulo, na zona sul de São Paulo.
No final de março e início de abril, a reportagem esteve por duas vezes no local. Nas duas ocasiões, a situação flagrada com a ajuda de uma microcâmera (veja o vídeo abaixo) foi de caos.
Os doentes são obrigados a dormir, comer e receber atendimento médico no corredor do centro de emergências, sem a menor privacidade. No final de março, quando o R7 chegou ao local pela manhã, pacientes dormiam com uma toalha no rosto para tentar diminuir o incômodo causado pela luz do teto. A parte debaixo da maca servia como guarda-roupas para doentes e acompanhantes.
Superintendente de hospital diz que situação é resultado de “superdemanda”
Leia mais notícias de São Paulo
Em 3 de abril, o comerciante J.* amargava o nono dia de espera na fila por uma cirurgia no fêmur. Ele conta que chegou ao local no dia 26 de março, depois de esperar por duas semanas a operação em outro hospital público. Assim que chegou ao São Paulo, foi alojado no corredor por falta de vagas em um quarto coletivo. A dor não o faz esquecer em momento nenhum a fratura. Resta ter paciência, diz ele, e conversar com os pacientes “vizinhos” para ajudar o tempo a passar.
J. era um dos 24 internos que, entre idas e vindas, ficaram alojados no corredor da emergência do hospital, ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), conforme documento de controle da unidade de saúde no último dia 3. Aparentando estar já sem expectativas, J. contou que não se animava mais quando os médicos pediam para que ele se preparasse para a cirurgia, ficando em jejum por cerca de 12 horas.
— A barriga fica vazia, mas a cirurgia não vem.
Segundo ele, a justificativa dada pelos médicos para a demora no atendimento é que “não há vagas no centro cirúrgico e nem nos quartos”.
— Eu tenho que fazer uma cirurgia para colocar aqueles pinos que ficam para fora da perna. Sofri uma refratura [ruptura do osso no mesmo local] e sinto dores a todo o momento. Só não estou sentindo dor agora porque tomei um remédio forte. Mas tem que esperar. Tem gente precisando mais do que eu... Gente com a coluna quebrada.
Serviço público
No final de março e início de abril, a reportagem esteve por duas vezes no local. Nas duas ocasiões, a situação flagrada com a ajuda de uma microcâmera (veja o vídeo abaixo) foi de caos.
Os doentes são obrigados a dormir, comer e receber atendimento médico no corredor do centro de emergências, sem a menor privacidade. No final de março, quando o R7 chegou ao local pela manhã, pacientes dormiam com uma toalha no rosto para tentar diminuir o incômodo causado pela luz do teto. A parte debaixo da maca servia como guarda-roupas para doentes e acompanhantes.
Superintendente de hospital diz que situação é resultado de “superdemanda”
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Em 3 de abril, o comerciante J.* amargava o nono dia de espera na fila por uma cirurgia no fêmur. Ele conta que chegou ao local no dia 26 de março, depois de esperar por duas semanas a operação em outro hospital público. Assim que chegou ao São Paulo, foi alojado no corredor por falta de vagas em um quarto coletivo. A dor não o faz esquecer em momento nenhum a fratura. Resta ter paciência, diz ele, e conversar com os pacientes “vizinhos” para ajudar o tempo a passar.
J. era um dos 24 internos que, entre idas e vindas, ficaram alojados no corredor da emergência do hospital, ligado à Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), conforme documento de controle da unidade de saúde no último dia 3. Aparentando estar já sem expectativas, J. contou que não se animava mais quando os médicos pediam para que ele se preparasse para a cirurgia, ficando em jejum por cerca de 12 horas.
— A barriga fica vazia, mas a cirurgia não vem.
Segundo ele, a justificativa dada pelos médicos para a demora no atendimento é que “não há vagas no centro cirúrgico e nem nos quartos”.
— Eu tenho que fazer uma cirurgia para colocar aqueles pinos que ficam para fora da perna. Sofri uma refratura [ruptura do osso no mesmo local] e sinto dores a todo o momento. Só não estou sentindo dor agora porque tomei um remédio forte. Mas tem que esperar. Tem gente precisando mais do que eu... Gente com a coluna quebrada.
Serviço público
Na maca logo atrás de J., o filho do paciente L. tinha o mesmo sentimento de descrédito com o atendimento do hospital. O rapaz chegou com o pai com metástase óssea e esperava a realização de uma biópsia. O exame ajudaria a equipe médica a saber quais procedimentos adotar.
— Estou há dois dias com ele esperando por uma consulta na ortopedia. Tem que pensar que o negócio é demorado, né? A gente já vem para cá esperando isso.
— Estou há dois dias com ele esperando por uma consulta na ortopedia. Tem que pensar que o negócio é demorado, né? A gente já vem para cá esperando isso.
O rapaz afirma que os médicos conversam, ouvem as reclamações do paciente, mas são incapazes de dar uma previsão de quando o problema será solucionado.
Já a paciente E. aguardava sozinha a equipe médica e tinha a esperança de ser operada de um problema no intestino naquele mesmo dia. Com a voz fraca e a aparência cansada, ela contou que esperava por essa cirurgia há pelo menos dois anos. E. diz acreditar que a situação do Hospital São Paulo não é muito diferente dos outras unidades públicas de saúde.
— Cheguei ontem mesmo aqui e já fiquei no corredor [...] Eles disseram que era para esperar, porque lá dentro não tem uma vaga. Estou esperando por uma cirurgia no estômago há dois anos e três meses. Já rodei pelo Cachoeira [Hospital Municipal Vila Nova Cachoerinha], pelo São Felix [...].
Relatório
Já a paciente E. aguardava sozinha a equipe médica e tinha a esperança de ser operada de um problema no intestino naquele mesmo dia. Com a voz fraca e a aparência cansada, ela contou que esperava por essa cirurgia há pelo menos dois anos. E. diz acreditar que a situação do Hospital São Paulo não é muito diferente dos outras unidades públicas de saúde.
— Cheguei ontem mesmo aqui e já fiquei no corredor [...] Eles disseram que era para esperar, porque lá dentro não tem uma vaga. Estou esperando por uma cirurgia no estômago há dois anos e três meses. Já rodei pelo Cachoeira [Hospital Municipal Vila Nova Cachoerinha], pelo São Felix [...].
Relatório
Um funcionário do Hospital São Paulo, que pediu para não ser identificado, relatou ao R7 que a equipe que trabalha no atendimento de emergência encaminhou, no segundo semestre de 2011, um ofício à diretoria da unidade relatando as más condições de atendimento e infraestrutura. Segundo ele, nenhuma providência foi tomada até o momento.
O problema de superlotação no Hospital São Paulo é antigo e “e oferece riscos sérios aos pacientes”. O funcionário conta que pessoas com meningite e tuberculose, que deveriam receber atendimento em uma ala isolada, esperam por uma consulta junto com outros pacientes. Internados com problemas psiquiátricos são amarrados em cadeiras e macas com faixas de curativo, afirma o funcionário. A reportagem pôde presenciar esta situação nas duas vezes que visitou o local. Um paciente, visivelmente transtornado, tinha os braços e pés amarrados à maca e chegou a pedir para que o repórter o ajudasse a se soltar.
O material gravado pelo R7 foi entregue ao Ministério Público na terça-feira (10). O promotor da Saúde Pública Roberto Cicogna Faggioni recebeu o vídeo e informou que ele será incluído em um processo já existente que investiga a situação do Hospital São Paulo. Para Faggioni, o flagrante feito pela reportagem é “chocante”.
O problema de superlotação no Hospital São Paulo é antigo e “e oferece riscos sérios aos pacientes”. O funcionário conta que pessoas com meningite e tuberculose, que deveriam receber atendimento em uma ala isolada, esperam por uma consulta junto com outros pacientes. Internados com problemas psiquiátricos são amarrados em cadeiras e macas com faixas de curativo, afirma o funcionário. A reportagem pôde presenciar esta situação nas duas vezes que visitou o local. Um paciente, visivelmente transtornado, tinha os braços e pés amarrados à maca e chegou a pedir para que o repórter o ajudasse a se soltar.
O material gravado pelo R7 foi entregue ao Ministério Público na terça-feira (10). O promotor da Saúde Pública Roberto Cicogna Faggioni recebeu o vídeo e informou que ele será incluído em um processo já existente que investiga a situação do Hospital São Paulo. Para Faggioni, o flagrante feito pela reportagem é “chocante”.
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