Uma tipologia psicossocial entra em
jogo na história, baseada em dois tipos ideais de idiotas: oidiota de raiz,
dentre os quais se destaca a subcategoria do idiota representante do
conhecimento paranoico, e o neo-idiota, com destaque para o
“idiota” mercenário que lucra com a arte de escrever para idiotas.
Vejamos quem são:
1- O Idiota de raiz é fruto de um
determinismo: ele não pode deixar de ser idiota. Seja em razão da tradição em
que está inserido ou de um déficit cognitivo, trata-se de um idiota autêntico.
O Idiota de raiz divide-se em três
subtipos:
1. 1 – Ignorante orgulhoso: não se abre à experiência do conhecimento. Repete
clichês introduzidos no cotidiano pelos meios de informação que ele conhece, a
televisão e os jornais de grande circulação, em que a informação é controlada.
Sua formação é “midiatizada”, mas ele não sabe disso e se orgulha do que lhe
permitem conhecer. No limite, o ignorante orgulhoso diz “sou fascista”, sem
conhecer a experiência do fascismo clássico da década de 30 e o significado
atual da palavra, assim como é capaz de defender sem razoabilidade alguma
ideias sobre as quais ele nada sabe. Um exemplo muito atual: apesar da
violência não ter diminuído nos países que reduziram a maioridade penal, a
ignorância da qual se orgulha o idiota, o faz defender essa medida como solução
para os mais variados problemas sociais. Ele se aproxima do “burro mesmo”
enquanto imita o representante do conhecimento paranoico, apresentados a
seguir.
1.2 – “Burro mesmo”: não há muito o que dizer. Mesmo com
informação por todos os lados, ele não consegue juntar os pontinhos. Por
exemplo: o “burro mesmo” faz uma manifestação “democrática” para defender a
volta da ditadura. Para bom entendedor, meia palavra…
1.3 – Representante do conhecimento
paranoico: tendo estudado ou sendo autodidata, o
representante do conhecimento paranoico pode ser, sob certo aspecto, genial.
Freud comparava, em sua forma, a paranoia a uma espécie de sistema filosófico.
O paranoico tem certezas, a falta de dúvida é o que o torna idiota. Se
duvidasse, ele poderia ser um filósofo. O conhecimento paranoico cria monstros
que ele mesmo acredita combater a partir de suas certezas. O comunismo, o
feminismo, a política de cotas ou qualquer política que possa produzir um
deslocamento de sentido e colocar em dúvida suas certezas, ocupa o lugar de
monstro para alguns paranoicos midiaticamente importantes.
Curioso é que o representante do
conhecimento paranoico pode parecer alguém inteligente, mas seu afeto paranoico
o impede de experimentar outras formas de ver o mundo, abortando a potência de
inteligência, que nele é, a todo momento, mortificada. Isso o aproxima do
“ignorante orgulhoso” e do “burro mesmo”.
Em termos vulgares e compreensíveis por
todos: ele é a brochada da inteligência.
2 – O neo-idiota: o neo-idiota poderia não ser um idiota, mas sua
escolha, sua adesão à tendência dominante, o coloca nesse lugar. Não se pode
esquecer que, além de cognitiva, a inteligência é uma categoria moral. O
neo-idiota não é apenas um idiota, mas também um canalha em potencial.
Há dois subtipos de neo-idiota:
2.1 – O “idiota” mercenário quer ganhar dinheiro. Ele serve aos
interesses dominantes, mas é um idiota como outro qualquer, porque não ganha
tanto dinheiro assim quando vende a alma.
Nessa categoria, prevalece o mercenário
sobre o idiota. Por isso, podemos falar de um idiota entre aspas. Ganha
dinheiro falando idiotices para os idiotas que o lerão. Seu leitor padrão
divide-se entre o “burro mesmo” e o “idiota cool”. Ele escreve aquilo que faz o
“burro mesmo” pensar que é inteligente. O idiota cool, por sua vez, se sente
legitimado pelo que lê. O que revela a responsabilidade do idiota mercenário no
crescimento do pensamento autoritário na sociedade brasileira. Apresentar Homer
Simpson ou qualquer outro exemplo de “burro mesmo” como modelo ideal de
telespectador ou leitor é paradigmático nesse contexto.
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