domingo, 22 de novembro de 2015

HISTORIA DE JUDITE


 HISTORIA  DE -JUDITE




I. Campanha de Holofernes
1 Nabucodonosor e Arfaxad — 1Era o décimo segundo ano do reinado de Nabucodonosor, que reinou
sobre os assírios em Nínive, a grande cidade. Arfaxad reinava, então, sobre os medos em Ecbátana.2Em
torno de Ecbátana ele edificou muralhas com pedras talhadas de três côvados de largura e seis de
comprimento. A altura da muralha era de setenta côvados, e a largura, de cinqüenta. 3Sobre as portas dela,
levantou torres de cem côvados de altura, com bases de sessenta côvados de largura. 4Fez as portas dela com
setenta côvados de altura e quarenta de largura, para a saída de seu potente exército e o desfile da cavalaria.
5Ora, naqueles dias, o rei Nabucodonosor guerreou contra o rei Arfaxad na grande planície, situada no
território de Ragau. 6Os habitantes da montanha, todos os habitantes do Eufrates, do Tigre, do Hidaspes e os
habitantes das planícies de Arioc, rei dos elimeus, reuniram-se a ele. Assim numerosos povos juntaram-se
para a batalha dos filhos de Queleud. 7Nabucodonosor, rei dos assírios, enviou uma mensagem a todos os
habitantes da Pérsia, a todos os habitantes da região ocidental, aos habitantes da Cilícia, de Damasco, do
Líbano, do Antilíbano, a todos os habitantes do litoral, 8aos povos do Carmelo, de Galaad, da Alta-Galiléia,
da grande planície de Esdrelon, 9a todos os que habitam em Samaria e nas suas cidades, aos que habitam
além do Jordão até Jerusalém, em Batana, Quelus, Cades, o rio do Egito, Táfnis, Ramsés e a toda a terra de
Gessen, 10até chegar além de Tânis e de Mênfis, e a todos os habitantes do Egito, até chegar aos confins da
Etiópia. 11Porém, todos os habitantes da terra menosprezaram a palavra de Nabucodonosor, rei dos assírios,
e não se uniram a ele para a guerra. Não o temiam. Para eles, era um homem isolado. Mandaram de volta
seus emissários de mãos vazias e menosprezados. 12Nabucodonosor irritou-se muito com todos esses países.
Jurou, por seu trono e seu reino, que se vingaria de todos os territórios da Cilícia, da Damascena, da Síria,
exterminando-os pela espada, bem como dos habitantes de Moab, dos filhos de Amon, de toda a Judéia e de
todo o Egito, até chegar às fronteiras dos dois mares.
Campanha contra Arfaxad — 13No décimo sétimo ano, combateu, com seu exército, contra o rei Arfaxad.
Venceu-o neste combate e rechaçou todo o exército de Arfaxad, toda a sua cavalaria, todos os seus carros.
14Assenhoreou-se de suas cidades até chegar a Ecbátana. Apoderou-se das torres, devastou as suas praças,
fez de seu adorno motivo de humilhação. 15Depois prendeu Arfaxad nas montanhas de Ragau, atravessou-o
com suas lanças e o exterminou para sempre. 16Em seguida, ele e toda a sua tropa, uma multidão inumerável
de guerreiros, retornaram. Então, despreocupados, ele e o seu exército se banquetearam por cento e vinte
dias.



2 Campanha ocidental — 1No décimo oitavo ano, no vigésimo segundo dia do primeiro mês, no palácio de
Nabucodonosor, rei dos assírios, falou-se em vingança contra toda a terra, conforme ele dissera. 2Ele
convocou todos os seus ajudantes de campo e todos os seus conselheiros e fez com eles uma reunião secreta.
Por sua própria boca, ultimou o plano de arrasar a terra. 3Decidiram, então, exterminar todos os que não
haviam atendido ao seu apelo. 4Terminada a reunião, Nabucodonosor, rei dos assírios, convocou
Holofernes, general de seu exército, seu imediato, e disse-lhe: 5"Isto diz o grande rei, o senhor de toda a
terra: saindo de minha presença, tomarás contigo homens experientes, uns cento e vinte mil infantes, grande
quantidade de cavalos, com doze mil cavaleiros. 6Sairás contra toda a região ocidental, porque não
atenderam à palavra da minha boca. 7Intimá-los-ás a que preparem terra e água porque, no meu furor, sairei
contra eles. Cobrirei toda a face da terra com os pés do meu exército e os entregarei à pilhagem. 8Seus
feridos encherão os abismos, e toda torrente e todo rio, inundados, com seus cadáveres, transbordarão.
9Levarei os cativos para os confins da terra. 10Tu, porém, indo, primeiro tomarás para mim toda a região
deles. Se eles se entregarem a ti, tu os reservarás para o dia do castigo. 11Mas o teu olho não poupará os
insubmissos. Entrega-os à matança e à pilhagem em toda a terra que te é confiada. 12Porque, por minha vida
e por meu reino, eu disse e farei com as minhas mãos todas essas coisas. 13E tu, não transgredirás uma só
das palavras do teu senhor, mas executa tudo conforme te ordenei e não tardes em fazê-lo." 14Saiu
Holofernes da presença de seu senhor, convocou todos os príncipes, os generais, os chefes do exército da
Assíria, 15e em seguida contou homens escolhidos para o combate, conforme lhe recomendara seu senhor:
uns cento e vinte mil, mais doze mil arqueiros montados. 16Repartiu-os ordenadamente, como se organiza
um exército. 17Tomou, então, camelos, jumentos e mulas em grande quantidade, para suas bagagens;
ovelhas, bois e cabras sem número, para o abastecimento. 18Cada homem recebeu mui- (a provisão, muito
ouro e muita prata do palácio do rei. 19Saiu, então, ele e todo o seu exército em expedição para, preceder o
rei Nabucodonosor e cobrir toda a região ocidental com carros, cavaleiros e infantes escolhidos. 20Com eles,
foi ainda, um bando, incontável como gafanhotos, como a areia da terra, tal a sua quantidade.
Etapas do exército de Holofernes — 21Partiram, pois, de Nínive, e caminharam por três dias em direção à
planície de Bectilet. Acamparam fora de Bectilet, próximo da montanha, à esquerda da Alta-Cilícia. 22De lá,
Holofernes tomou o seu exército, infantes, cavaleiros e carros, e partiu para a região montanhosa. 23Cortou
através de Fut e Lud, e saqueou todos os filhos de Rassis e de Ismael que vivem na orla do deserto, ao sul de
Queleon. 24Costeou o Eufrates, atravessou a Mesopotâmia, destruiu todas as cidades fortificadas que estão
junto à torrente Abrona, até chegar ao mar. 25Apoderou-se, depois, dos territórios da Cilícia, despedaçou a
todos os que lhe resistiam, e foi até aos confins meridionais de Jafé, diante da Arábia. 26Cercou todos os
filhos de Madiã, incendiou suas tendas e devastou seus estábulos. 27Desceu, em seguida, para a planície de
Damasco, nos dias da colheita de trigo, incendiou todos os seus campos, destruiu ovelhas e bois, saqueou as
suas cidades, devastou as suas plantações e passou todos os seus jovens ao fio da espada. 28Temor e tremor
caíram sobre os habitantes da costa: os de Sidônia e de Tiro, os de Sur, de Oquina e de Jâmnia. O terror
reinou entre as populações de Azoto e de Ascalon.
3 1Enviaram a ele mensageiros com palavras de paz, dizendo: 2"Somos servidores do grande rei
Nabucodonosor, prostramo-nos diante de ti: serve-te de nós conforme for do teu agrado. 3Eis os nossos
estábulos, todo o nosso território, todos os campos de trigo, as ovelhas e os bois, todos os cercados dos
nossos acampamentos estão à tua disposição, serve-te disso como te parecer melhor. 4Eis, também, as
nossas cidades: os que habitam nelas são teus servos. Vem na direção delas segundo parecer bem aos teus
olhos." 5Os habitantes apresentaram-se, pois, a Holofernes e falaram-lhe nesses termos. 6Ele, com seu
exército, desceu para a costa e estabeleceu guarnições nas cidades fortificadas, tomou delas homens
escolhidos, como tropas auxiliares. 7Os habitantes das cidades e arredores receberam-no com coroas e
dançando ao som de tamborins. 8Mas ele não deixou de devastar seus santuários e de cortar suas árvores
sagradas. Fora autorizado a exterminar todos os deuses da terra, de maneira que todos os povos adorassem
só a Nabucodonosor, e que todas as línguas e todas as tribos o invocassem como deus. 9Chegou à vista de
Esdrelon, próximo de Dotaia, aldeia que está diante da grande serra da Judéia. 10Acamparam entre Geba e
Citópolis e ficaram aí um mês para reunir provisões para o seu exército.
4 Alarme na Judéia — 1Os filhos de Israel que habitavam a Judéia ouviram tudo o que Holofernes, general
de Nabucodonosor, rei dos assírios,fizera com os pagãos, e como saqueara seus templos e os entregara todos
à destruição. 2Ficaram profundamente aterrorizados com a presença dele e temeram por Jerusalém e pelo
Templo do Senhor seu Deus. 3Haviam recentemente voltado do cativeiro, e todo o povo da Judéia fora de
novo reunido; os utensílios, o altar e o Templo haviam sido recentemente purificados da profanação.
4Enviaram, pois, mensageiros a toda a Samaria, Cona, Bet-Horon, Belmain, Jericó, Coba, Aisora e o vale de
Salém. 5Ocuparam antecipadamente todos os cumes dos montes elevados e fortificaram as aldeias ali
existentes. Prepararam aprovisionamento em vista da guerra, pois pouco antes haviam feito a colheita dos
campos. 6O sumo sacerdote Joaquim, que naqueles dias estava em Jerusalém, escreveu aos habitantes de
Betúlia e Betomestaim, que estão diante de Esdrelon e na direção da vizinha planície de Dotain, 7dizendo
que ocupassem as passagens da montanha, pois através delas era a entrada para a Judéia. Seria fácil, assim,
impedir que avançassem, pois o acesso era estreito, passando apenas dois homens. 8Os filhos de Israel
fizeram como lhes ordenaram Joaquim, o sumo sacerdote, e o Conselho dos anciãos de todo o povo de Israel
que tinham sede em Jerusalém.
As grandes súplicas — 9Todos os homens de Israel clamaram a Deus com grande zelo e se humilharam
diante dele. 10Eles, suas mulheres, seus filhos, seus rebanhos, todos os forasteiros, os mercenários e os
escravos cingiram os rins com pano de saco. 11Todos os homens de Israel, as mulheres e as crianças que
habitavam em Jerusalém prostraram-se diante do santuário, cobriram suas cabeças com cinza e estenderam
as mãos1 diante do Senhor. 12Envolveram o altar com pano de saco. Clamaram unanimemente e com ardor
ao Deus de Israel para não entregar à pilhagem seus filhos, nem as mulheres ao rapto, nem as cidades de sua
herança à destruição, nem o Templo à profanação e ao ultraje para escárnio dos pagãos. 13O Senhor ouviu a
voz deles e considerou a sua tribulação. Havia dias o povo estava jejuando em toda a Judéia e em Jerusalém,
diante do santuário do Senhor Todo-poderoso.14O sumo sacerdote Joaquim e todos os que ficam diante do
Senhor, sacerdotes e ministros do Senhor, vestidos com pano de saco sobre os rins, ofereciam o holocausto
perpétuo, os votos e os dons voluntários do povo. 15Com cinza sobre seus turbantes, clamavam com toda
força ao Senhor para que visitasse, com seu favor, toda a casa de Israel.
5 Conselho de guerra no acampamento de Holofernes — 1Contaram a Holofernes, general do exército
assírio, que os filhos de Israel se preparavam para a guerra. Disseram-lhe que eles tinham fechado as
passagens da montanha, fortificado todos os cumes dos montes elevados e colocado obstáculos nas
planícies. 2Então ele irritou-se muito, chamou todos os chefes de Moab e os generais de Amon e todos os
sátrapas do litoral. 3"Homens de Canaã", disse-lhes, "contai-me: qual é esse povo que mora nas montanhas?
Quais as cidades em que habita? Qual o número de seu exército? Em que consiste o seu poder e a sua força?
Quem se elevou sobre eles como rei e governa suas tropas? 4Por que desdenharam vir ao meu encontro, ao
contrário do que fizeram os que habitam o ocidente?" 5Disse-lhe Aquior, chefe de todos os filhos de Amon:
"Escuta, pois, meu senhor, a palavra da boca de teu servo. Declarar-te-ei a verdade sobre esse povo que
habita nesta montanha, perto de onde habitas. 6Esse povo é descendente dos caldeus. 7Primeiro emigraram
para a Mesopotâmia, porque não quiseram seguir os deuses de seus pais, que viveram na terra dos caldeus.
8Abandonaram os caminhos dos seus progenitores e adoraram o Deus do céu, que reconheceram como
Deus. Banidos, então, da presença de seus deuses, fugiram para a Mesopotâmia e aí habitaram por longo
tempo. 9O Deus deles ordenou que saíssem do estrangeiro e fossem para a terra de Canaã. Nela se
instalaram e enriqueceram-se muito com ouro, prata e numerosos rebanhos. 10Desceram, em seguida, para o
Egito, porque uma fome se abateu sobre a terra de Canaã. Habitaram lá enquanto encontraram alimento.
Tornaram-se ali uma grande multidão, era inumerável a raça deles. 11Mas o rei do Egito levantou-se contra
eles e enganou-os, submetendo-os ao trabalho pesado e ao fabrico de tijolos. Humilharam- nos e reduziramnos
a escravos. 12Eles clamaram ao seu Deus, que feriu toda a terra do Egito com pragas, para as quais não
havia remédio. Então os egípcios expulsaram-nos de suas vistas. 13Deus secou o mar Vermelho diante deles
14e conduziu-os pelo caminho do Sinai e de Cades Barne. Eles expulsaram todos os habitantes do deserto,
15estabeleceram-se na terra dos amorreus e exterminaram, vigorosamente, todos os habitantes de Hesebon.
Atravessaram o Jordão, tomaram toda a montanha, 16expulsaram de suas vistas os cananeus, os ferezeus, os
jebuseus, os siquemitas e todos os gergeseus, e habitaram aí por muitos dias. 17Enquanto não pecaram contra
o seu Deus, a prosperidade estava com eles, porque o seu Deus odeia a iniqüidade. 18Quando, porém, se
afastaram do caminho que lhes havia assinalado, uma parte foi completamente exterminada em guerras,
outra foi levada cativa para terra estranha. O Templo de seu Deus foi arrasado e suas cidades foram
conquistadas pelos adversários. 19Agora, voltando-se para seu Deus, retornaram da diáspora, dos lugares em
que estavam dispersos, ocuparam Jerusalém, onde está o santuário deles, e repovoaram a montanha, por
estar deserta. 20E agora, mestre e senhor, se há algum delito nesse povo, se pecaram contra seu Deus, neste
caso, examinaremos bem se há mesmo neles esse tropeço. Depois subiremos e os atacaremos. 21Mas se não
há iniqüidade na sua gente, que meu senhor passe adiante, para que não aconteça que o Senhor e Deus deles
os proteja e esteja a seu favor. Seríamos então motivo de escárnio para toda a terra." 22Aconteceu que,
quando Aquior acabou de dizer essas palavras, todo o povo que estava ao redor da tenda murmurou. Os
notáveis de Holofernes, todos os habitantes da costa e de Moab falaram em destruí-lo. 23"Não vamos temer
os filhos de Israel. É um povo sem força e sem poder para sustentar um combate duro. 24Por isso, subiremos,
e serão pasto para a voracidade de todo o teu exército, senhor Holofernes."
6 Aquior é entregue aos israelitas — 1Quando cessou o tumulto dos homens em torno do Conselho,
Holofernes, general do exército assírio, disse a Aquior, diante de toda a multidão de estrangeiros, e a todos
os amonitas: 2"Quem, pois, és tu, Aquior, e os mercenários de Efraim, que profetizas entre nós, como hoje, e
dizes para não guerrearmos contra a raça de Israel, porque o Deus deles os protegerá? Quem é deus além de
Nabucodonosor? Este enviará sua força e os exterminará da face da terra, e o Deus deles não os salvará.
3Mas nós, seus servos, os esmagaremos como se fossem um único homem. Não poderão resistir à força dos
nossos cavalos. 4Nós os queimaremos todos juntos. Seus montes embriagar-se-ão com o sangue deles, e suas
planícies ficarão repletas de seus cadáveres. O rasto de seus pés não se manterá firme diante de nós, mas
perecerão todos, diz o rei Nabucodonosor, o rei de toda a terra. Porque ele disse, e suas palavras não se
tornarão vãs. 5Tu, porém, Aquior, mercenário amonita, que disseste essas palavras no dia de tua iniqüidade,
a partir de hoje não verás a minha face até que eu me vingue dessa raça que saiu do Egito. 6Então a espada
dos meus soldados e a lança de meus servos atravessarão tuas costelas. Cairás entre seus feridos quando eu
voltar. 7Agora meus servos te conduzirão à montanha e te deixarão em uma das cidades dos desfiladeiros.
8Só perecerás quando fores exterminado com eles. 9Não fiques de cabeça baixa, se em teu coração confias
que não serão capturados. Eu disse, e nenhuma de minhas palavras cairá por terra." 10Holofernes ordenou a
seus servos, que estavam diante de sua tenda, que tomassem Aquior, o conduzissem a Betúlia e o
entregassem nas mãos dos filhos de Israel. 11Seus servos, então, o tomaram e o conduziram para fora do
acampamento, para a planície; de lá se dirigiram para a montanha e chegaram às fontes, que estão ao pé de
Betúlia. 12Quando os homens da cidade os viram no cimo dos montes, tomaram suas armas, saíram da
cidade e foram para lá, enquanto os fundibulários, para impedir que subissem, lançavam pedras sobre eles.
13Abrigando-se no sopé do monte, eles ataram Aquior e o deixaram ao pé do monte antes de voltarem para o
seu senhor. 14Desceram, então, os filhos de Israel de sua cidade, vieram até ele, desamarraram-no,
conduziram-no a Betúlia e o apresentaram aos chefes de sua cidade, !5que naqueles dias eram Ozias, filho de
Micas, da tribo de Simeão, Cabris, filho de Gotoniel, e Carmis, filho de Melquiel. 16Eles convocaram todos
os anciãos da cidade. Também os jovens e as mulheres foram para a assembléia. Colocaram Aquior no meio
de todo o povo e Ozias o interrogou sobre o que acontecera. 17Respondendo, anunciou-lhes as palavras do
Conselho de Holofernes e tudo o que ele mesmo tinha dito no meio dos chefes assírios, como também as
vantagens que Holofernes tinha contado contra a casa de Israel. 18Então o povo prostrou-se, adorou a Deus e
clamou, dizendo: 19"Senhor, Deus do céu, vê o orgulho deles e tem piedade da humilhação de nossa raça.
Olha, favoravelmente, neste dia, os que te são consagrados." 20Depois animaram Aquior e o elogiaram
muito. 21Ozias o levou da assembléia para a sua casa e ofereceu um banquete aos anciãos. Durante toda
aquela noite, invocaram o socorro do Deus de Israel.
II. Assédio de Betúlia
7 Campanha contra Israel — 1No dia seguinte, Holofernes ordenou a todo o seu exército e a todo o seu
povo, os quais se tinham reunido a ele como aliados, que avançassem contra Betúlia, ocupassem as
passagens da montanha e fizessem guerra aos filhos de Israel. 2Naquele mesmo dia, todos os homens do seu
exército levantaram acampamento. O exército de seus homens de guerra compreendia cento e vinte mil
infantes, doze mil cavaleiros, sem contar a bagagem e a grande multidão de gente que ia a pé entre eles.
3Entraram no vale próximo de Betúlia, em direção à fonte, e se estenderam em profundidade desde Dotain
até Belbaim, e em extensão desde Betúlia até Quiamon, que está diante de Esdrelon. 4Quando os filhos de
Israel viram a multidão deles, turbaram-se profundamente e disseram uns aos outros: "Agora eles engolirão
toda a face da terra. Nem os montes elevados, nem os precipícios, nem as colinas suportarão a sua força."
5Cada um tomou seus equipamentos de guerra, acenderam fogo sobre suas torres e permaneceram de guarda
toda aquela noite. 6No segundo dia, Holofernes fez sair toda a sua cavalaria diante dos filhos de Israel que
estavam em Betúlia. 7Inspecionou as subidas que levavam à cidade deles, explorou as fontes de água,
ocupou-as, colocou nelas postos de soldados e voltou à sua gente. 8Todos os príncipes dos edomitas, todos
os chefes do povo de Moab e os generais da orla marítima vieram a ele e disseram-lhe: 9"Escuta, senhor
nosso, uma sugestão para que não haja uma só ferida em teu exército. 10Este povo dos filhos de Israel não
confia tanto em suas lanças quanto nas elevações em que habitam. Não é certamente fácil escalar os cumes
dos seus montes. 11Por conseguinte, senhor, não combatas contra eles como se faz na batalha em campo
aberto, e não cairá um só homem de teu povo. 12Fica em teu acampamento e mantém nele todos os homens
do teu exército, mas que teus servos se apoderem das fontes de água que manam ao pé do monte. 13Com
efeito, é lá que todos os habitantes de Betúlia buscam água, e a sede os forçará então a te entregarem a sua
cidade. Nós e nosso povo subiremos aos cumes dos montes mais próximos e acamparemos neles, como
sentinelas, para que não saia da cidade um só homem. 14Serão consumidos pela fome, eles, as suas mulheres
e os seus filhos, e, antes mesmo de desembainhares a espada contra eles, cairão nas ruas de suas habitações.
15E lhes farás pagar bem caro por terem se revoltado e não terem ido ao teu encontro pacificamente. 16As
palavras deles agradaram a Holofernes e a todo os seus oficiais, e ele decidiu agir conforme disseram.
17Partiu, pois, uma tropa de moabitas, e com eles cinco mil assírios. Penetraram no vale e ocuparam as águas
e as fontes das águas dos filhos de Israel. 18Os edomitas e os amonitas subiram, postaram-se na montanha
diante de Dotain e enviaram alguns deles para o sul e para o leste, diante de Egrebel, que está próximo de
Cuch, sobre a torrente de Mocmur. O resto do exército assírio tomou posição na planície e cobriu toda a
região. As tendas e as bagagens deles formavam um enorme acampamento, pois eram uma grande multidão.
19Os filhos de Israel clamaram ao Senhor seu Deus. O ânimo deles abateu-se, pois todos os seus inimigos os
tinham cercado e não havia como fugir do meio deles. 20Todo o acampamento assírio, os infantes, os carros
e os cavaleiros, permaneceu ao redor deles por trinta e quatro dias. Esgotaram-se para os habitantes de
Betúlia todas as vasilhas de água, 21e as cisternas se esvaziaram. Não tinham água para matar a sede um só
dia, pois a água era racionada. 22As crianças desmaiavam, as mulheres e os adolescentes desfaleciam de
sede. Caíam nas ruas e nas saídas das portas da cidade, e não havia mais força neles. 23Todo o povo,
adolescentes, mulheres e crianças, reuniu-se em torno de Ozias e dos chefes da cidade e clamou em altos
brados, dizendo diante de todos os anciãos: 24"Julgue Deus entre vós e nós, porque fizestes uma grande
injustiça contra nós, não conversando pacificamente com os assírios. 25Agora já não há socorro para nós.
Deus nos entregou nas suas mãos, para que caiamos diante deles pela sede, na completa destruição. 26Agora,
chamai-os. Entregai toda a cidade ao saque do povo de Holofernes e de todo o seu exército. 27É melhor para
nós sermos objeto de pilhagem deles. Seremos, sim, escravos, mas viveremos e não veremos com nossos
olhos a morte de nossas crianças, nem o desfalecimento de nossas mulheres e dos nossos filhos.
28Chamamos por testemunhas contra vós o céu e a terra, o nosso Deus e Senhor de nossos pais, que nos
castiga segundo os nossos pecados e segundo as faltas de nossos pais, a fim de agirdes conforme essas
palavras, hoje mesmo." 29Um grande clamor irrompeu unanimemente, no meio da assembléia e todos
clamaram em alta voz ao Senhor Deus. 30Disse-lhes, então, Ozias: "Confiai, irmãos, resistamos ainda por
cinco dias, nos quais o Senhor nosso Deus volverá a sua misericórdia para nós, pois ele não nos abandonará
para sempre. 31Se passados esses dias ele não vier em nosso socorro, então farei conforme a vossa palavra."
32Em seguida, dispersou o povo, cada qual para o seu lugar. Os homens foram para as muralhas e as torres
da cidade e mandaram as mulheres e as crianças para as suas casas. Havia na cidade uma grande
consternação.
III. Judite
8 Apresentação de Judite — 1Naqueles dias, ouviu tudo isso Judite, filha de Merari, filho de Ox, filho de
José, filho de Oziel, filho de Elquias, filho de Ananias, filho de Gedeão, filho de Rafain, filho de Aquilob,
filho de Elias, filho de Helcias, filho de Eliab, filho de Natanael, filho de Salamiel, filho de Surisadai, filho
de Israel. 2O seu marido, Manassés, da mesma tribo e da mesma parentela, tinha morrido na colheita da
cevada. 3Ele estava vigiando os que atavam os feixes nos campos, quando um forte calor atingiu-lhe a
cabeça. Caiu de cama e morreu em Betúlia, sua cidade. Sepultaram-no com seus pais no campo situado
entre Dotain e Balamon. 4Judite vivia em sua casa, desde que se tornara viúva havia três anos e quatro
meses. 5Fizera para si um quarto no terraço da casa. Vestia um pano de saco sobre os rins e cobria-se com o
manto de sua viuvez. 6Jejuava todos os dias de sua viuvez, exceto nas vigílias de sábado, nos sábados, nas
vigílias da lua nova, nas luas novas e nos dias de festa e de regozijo da casa de Israel. 7Era muito bela e de
aspecto encantador. Manassés, seu marido, lhe deixara ouro, prata, servos, servas, rebanhos e campos, e ela
administrava tudo isso. 8Não havia quem lhe recriminasse uma palavra má, pois era muito temente a Deus.
Judite e os anciãos — 9Ela ouviu as palavras inconsideradas do povo, desalentado pela falta de água, contra
o chefe da cidade. Judite ouviu também tudo o que Ozias lhe disse e como jurara entregar a cidade aos
assírios depois de cinco dias. 10Mandou então sua serva, preposta a todos os seus bens, chamar Cabris e
Carmis, anciãos da cidade. 11Quando vieram a ela, disse-lhes: "Ouvi-me, chefes dos habitantes de Betúlia.
Não é correta a vossa palavra, a que dissestes hoje diante do povo, nem esse juramento que proferistes entre
Deus e nós, dizendo que entregaríeis a cidade aos nossos inimigos se, neste prazo, o Senhor não vos trouxer
socorro. 12Quem sois vós, que hoje tentais a Deus e vos colocais acima dele no meio dos filhos dos homens?
13Agora colocais à prova o Senhor Todo-poderoso! Jamais compreendereis coisa alguma! 14Se não descobris
o íntimo do coração do homem e não entendeis as razões do seu pensamento, como, então, penetrareis o
Deus que fez essas coisas? Como conhecereis seu pensamento? Como compreendereis o seu desígnio? Não,
irmãos, não irriteis o Senhor, nosso Deus! 15Se ele não quer nos socorrer em cinco dias, ele tem poder para
fazê-lo no tempo em que quiser, como também pode nos destruir diante dos nossos inimigos. 16Não
hipotequeis, pois, os desígnios do Senhor nosso Deus. Não se encurrala a Deus como um homem, nem se
pode submetê-lo como a um filho de homem. 17Por isso, esperando pacientemente a salvação dele,
invoquemo-lo em nosso socorro. Ele ouvirá a nossa voz, se for do seu agrado. 18É verdade que não houve
nas nossas gerações, nem há nos dias de hoje nenhuma de nossas tribos ou famílias, nenhum dos povos ou
cidades que adorem deuses feitos pela mão do homem, como aconteceu outrora, 19o que foi a causa de
nossos pais serem entregues à espada e à pilhagem e caírem miseravelmente diante de seus inimigos. 20Nós,
na verdade, não conhecemos outro Deus além dele. Por isso, confiamos que não nos olhará com desdém,
nem se afastará de nossa raça. 21Com efeito, se formos capturados, assim também o será toda a Judéia, e
nosso santuário será saqueado. Então, nosso sangue deverá responder por sua profanação. 22A morte dos
nossos irmãos, a deportação do país, a devastação da nossa herança recairão sobre nossas cabeças nas
nações onde formos escravos, e seremos objeto de escândalo e de escárnios diante dos nossos dominadores,
23porque a nossa servidão não será conduzida com benevolência, mas o senhor nosso Deus a converterá em
ignomínia. 24E agora, irmãos, persuadamos nossos irmãos de que suas vidas dependem de nós; o santuário, o
Templo e o altar repousam sobre nós. 25Apesar de tudo, agradeçamos ao Senhor nosso Deus que nos põe à
prova como a nossos pais.26Lembrai-vos do que ele fez a Abraão, de como provou Isaac, do que aconteceu a
Jacó na Mesopotâmia da Síria, quando. pastoreava as ovelhas de Labão, irmão de sua mãe. 27Como ele os
provou para sondar os seus corações, assim também não está se vingando de nós, mas, para advertência, o
Senhor açoita os que dele se aproximam." 28Ozias lhe respondeu: "Tudo o que disseste, disseste com ótima
intenção, e não há quem contradiga tuas razões. 29Não é de hoje que tua sabedoria se manifesta. Desde o
princípio de teus dias, todo o povo conheceu a tua inteligência, bem como a natural bondade do teu coração.
30Mas o povo, acossado pela forte sede, forçou-nos a fazer como dissemos a eles, comprometendo-nos com
um juramento que não poderá ser quebrado. 31E agora, dado que és uma mulher piedosa, roga por nós, e o
Senhor enviará uma forte chuva para encher nossas cisternas, e não mais desfaleceremos." 32— "Escutai-me
bem", disse-lhes Judite. "Farei algo cuja lembrança se transmitirá aos filhos de nossa raça, de geração em
geração. 33Esta noite ficareis à porta da cidade. Eu sairei, com minha serva, e, antes da data na qual dissestes
que entregaríeis a cidade aos inimigos, o Senhor, por minha mão, visitará Israel. 34Quanto a vós, não
procureis saber o que vou fazer. Não vo-lo direi antes de tê-lo feito." 35Ozias e os chefes disseram lhe: "Vai
em paz! Que o Senhor Deus esteja diante de ti para vingança dos nossos inimigos." 36E, deixando o
aposento, foram para os seus postos.
9 Oração de Judite — 1Judite prostrou-se com o rosto por terra. Pôs cinza sobre a cabeça e despojou-se até
ficar apenas com o pano de saco que havia vestido. Era a hora em que se oferecia em Jerusalém, no Templo
de Deus, o incenso da tarde. Em alta voz, Judite clamou ao Senhor e disse: 2"Senhor, Deus de meu pai
Simeão, em cuja mão puseste uma espada para vingança contra os estrangeiros que desataram o cinto de
uma virgem, para sua vergonha, que desnudaram sua coxa para sua confusão, e profanaram seu seio, para
sua desonra; porque disseste: 'Não será assim'; e eles o fizeram. 3Por isso entregaste seus chefes à morte, e
seu leito, aviltado pela astúcia, foi enganado até ao sangue. Feriste os escravos com os príncipes, e os
príncipes com os seus servos. 4Entregaste suas mulheres ao rapto e suas filhas ao cativeiro, e todos os seus
despojos à partilha, em proveito dos filhos por ti amados, os que arderam de zelo por ti, abominaram a
mancha de seu sangue e invocaram o teu socorro. Deus, ó meu Deus, ouve-me, que sou uma pobre viúva.
5Tu é que fizeste o passado, o que acontece agora e o que acontecerá depois. O presente e o futuro foram
estabelecidos por ti, e o que pensaste aconteceu. 6O que determinaste se apresentou e disse: 'Aqui estou!'
Porque todos os teus caminhos estão preparados, e teus juízos previstos de antemão. 7Eis os assírios: eles se
prevalecem do seu exército, gloriam-se de seus cavalos e de seus cavaleiros, orgulham-se dos braços da
infantaria. Confiam no escudo e na lança, no arco e na funda, e não sabem que tu és o Senhor que põe fim às
guerras. 8Senhor é o teu nome! Quebra sua força com teu poder, despedaça seu ímpeto com tua cólera!
Porque deliberaram profanar teu santuário, manchar a tenda onde repousa teu Nome glorioso e derrubar a
ferro os chifres de teu altar. 9Olha sua altivez, envia tua ira sobre suas cabeças, dá à minha mão de viúva o
ímpeto que pensei. 10Pela astúcia de meus lábios, fere o escravo com o chefe e o chefe com seu servo.
Quebra sua arrogância pela mão de uma mulher. 11Tua força não está no número, nem tua autoridade nos
violentos, mas tu és o Deus dos humildes, o socorro dos oprimidos, o protetor dos fracos, o abrigo dos
abandonados, o salvador dos desesperados. 12Sim, sim, Deus de meu Pai, Deus da herança de Israel, Senhor
do céu e da terra, Criador das águas, Rei de toda tua criação, ouve tu a minha prece. 13Dá-me palavra e
astúcia para ferir e matar os que forjaram duros planos contra tua Aliança, tua santa Habitação, a montanha
de Sião e a casa que pertence aos teus filhos. 14Faze conhecer a todo o teu povo e a toda tribo que tu és o
Senhor, Deus de todo poder e de toda força, e que o povo de Israel não tem outro protetor senão a ti."
IV. Judite e Holofernes
10 Judite dirige-se a Holofernes — 1Quando cessou de clamar ao Deus de Israel e terminou todas as suas
palavras, 2ela se levantou da sua prostração, chamou sua serva e desceu para a casa em que ficava nos dias
de sábado e de festa. 3Tirou o pano de saco que vestira, despojou-se do manto de sua viuvez, lavou-se,
ungiu-se com ótimo perfume, penteou os cabelos, colocou na cabeça o turbante e vestiu a roupa de festa que
usava enquanto vivia seu marido Manassés. 4Calçou sandálias nos pés, colocou colares, braceletes, anéis,
brincos, todas as suas jóias, embelezando-se a fim de seduzir os homens que a vissem. 5Depois deu à sua
serva um odre de vinho e uma bilha de óleo, encheu um alforje de farinha de cevada, de bolos de frutas
secas e de pães puros; embrulhou tudo num recipiente e lho entregou. 6Saíram então para a porta da cidade
de Betúlia. Encontraram aí postados Ozias e dois anciãos da cidade, Cabris e Carmis. 7Quando a viram com
o rosto transformado e a veste mudada, ficaram admirados com sua extraordinária beleza e disseram-lhe:
8"Que o Deus de nossos pais te conceda benevolência! Que ele leve a termo tua empresa para orgulho dos
filhos de Israel e para exaltação de Jerusalém!" 9Ela adorou a Deus e disse-lhes: "Mandai abrir para mim a
porta da cidade: sairemos para executar as palavras que me dissestes." Ordenaram, pois, aos jovens que lhe
abrissem, conforme ela pediu. 10Assim fizeram, e Judite saiu, junto com sua serva. Os homens da cidade a
observavam enquanto descia a encosta até atravessar o vale. Depois não a viram mais. 11Caminhavam direto
para o vale, quando lhes vieram ao encontro as sentinelas dos assírios. 12Detiveram Judite e perguntaramlhe:
"De que parte és? Donde vens? Para onde vais?" — "Eu sou filha dos hebreus", respondeu ela. "Fugi da
presença deles porque estão para ser entregues a vós como iguarias. 13Venho à presença de Holofernes,
general do vosso exército, para dar-lhe notícias seguras. Mostrarei a ele o caminho por onde passar para
apoderar-se de toda a montanha, sem que perca um só de seus homens ou uma só vida." 14Enquanto os
homens a ouviam observavam o seu rosto. Estavam admirados de sua grande beleza. Disseram-lhe:
15"Salvaste tua vida apressando-te em vir à presença do nosso senhor. Vai, agora, à sua tenda; alguns de nós
escoltar-te-emos até te entregarmos em suas mãos. 16Quando estiveres diante dele, não temas em teu
coração, mas repete-lhe tudo o que nos disseste, e ele tratar-te-á bem." 17Destacaram então cem homens, que
se ajuntaram a ela e à sua serva e as conduziram à tenda de Holofernes. 18Houve uma agitação em todo o
acampamento, pois correu pelas tendas a notícia de sua chegada. Eles a rodearam enquanto estava fora da
tenda de Holofernes aguardando ser anunciada. 19Admiravam-se de sua beleza e, por ela, admiravam os
filhos de Israel. Disseram uns aos outros: "Quem desprezaria um povo que tem mulheres como esta? Não é
bom ficar um só homem deles. Os que ficassem poderiam seduzir toda a terra." 20Os guardas pessoais de
Holofernes e seus ajudantes de campo saíram e a introduziram na tenda. 21Holofernes estava repousando em
seu leito, sob um mosquiteiro de púrpura, bordado a ouro com esmeraldas e pedras preciosas.
22Anunciaram-na e ele saiu à entrada da tenda, precedido por lâmpadas de prata. 23Quando Judite chegou à
presença do general e de seus ajudantes de campo, todos se admiraram com a beleza de seu rosto. Ela
prostrou-se diante dele, mas seus servos a levantaram.
11 Primeira entrevista de Judite e Holofernes — 1Disse-lhe Holofernes: "Confia, mulher, não temas em teu
coração! Jamais maltratei homem algum que escolheu servir a Nabucodonosor, rei de toda a terra. 2Agora
mesmo, se teu povo, que habita a montanha, não me menosprezasse, eu não levantaria a lança contra ele.
Eles mesmos é que fizeram isso. 3Agora dize-me por que fugiste deles e vieste até nós... Em todo caso, vens
para tua salvação! Confia! Viverás esta noite e as seguintes também. 4Não haverá quem te maltrate; pelo
contrário, tratar-te-ão bem, como aos servos do meu senhor, o rei Nabucodonosor." 5Disse-lhe então Judite:
"Acolhe favoravelmente as palavras de tua escrava e possa a tua serva falar na tua presença. Nesta noite não
falarei mentira alguma ao meu senhor. 6Se seguires os conselhos de tua serva, Deus levará a bom termo tua
empresa e o meu senhor não fracassará em seus planos. 7Viva Nabucodonosor, rei de toda a terra, que te
enviou para corrigir todo ser vivente, e viva seu poder! Pois, graças a ti, não são apenas os homens que o
servem, mas, por causa de tua força, também as feras do campo, os rebanhos e os pássaros do céu viverão
para Nabucodonosor e para toda a sua casa! 8Com efeito, ouvimos falar de tua sabedoria e da sagacidade de
teu espírito. Foi anunciado em toda a terra que, em todo o reino, só tu és bom, poderoso por tua ciência e
admirável pelas campanhas militares. 9E agora, conhecemos o discurso que fez Aquior no teu Conselho. Os
homens de Betúlia o pouparam, e ele contou-lhes tudo o que disse diante de ti. 10Por isso, senhor poderoso,
não desprezes a palavra dele, mas deposita-a em teu coração, pois é verdadeira. Certamente nossa raça não
será castigada e a espada não prevalecerá contra ela, a não ser que peque contra o seu Deus. 11E agora, para
que o meu senhor não se torne rejeitado e fracassado, a morte virá sobre as suas cabeças. O pecado se
apoderou deles, pecado com o qual irritam o seu Deus, sempre que fazem uma desordem. 12Quando lhes
faltaram víveres e escasseou a água, resolveram lançar mão de seu rebanho e decidiram consumir tudo o
que, por suas leis, Deus havia determinado que não comessem. 13Até mesmo as primícias do trigo, os
dízimos do vinho e do azeite — coisas consagradas e por eles reservadas aos sacerdotes que, em Jerusalém,
estão diante da face do nosso Deus — resolveram consumi-los, o que nem com a mão alguém do povo pode
tocar.14Enviaram a Jerusalém, onde os habitantes fizeram o mesmo, algumas pessoas encarregadas de lhes
trazerem a permissão do Conselho. 15Assim era: tão logo recebam a permissão e a executem, serão
entregues a ti, naquele mesmo dia. 16Logo que eu, tua serva, compreendi tudo isso, fugi da presença deles.
Deus enviou-me para realizar contigo coisas com as quais toda a terra se assombrará, quando as ouvir.
17Porque tua serva é piedosa e serve, noite e dia, ao Deus do céu. Agora permanecerei junto de ti, meu
senhor. Eu, tua serva, sairei toda noite, à escarpa. Rezarei a Deus e ele me dirá quando consumaram o seu
pecado. 18Vindo, eu to anunciarei; sairás, então, com todo o teu exército, e não haverá entre eles quem te
resista. 19Conduzir-te- ei através de toda a Judéia até chegar diante de Jerusalém. Colocarei teu trono no
meio dela. Então, conduzirás a todos, como ovelhas que não têm pastor, e não haverá nem mesmo um só
cão para rosnar diante de ti. Essas coisas me foram ditas previamente, foram-me anunciadas e eu fui enviada
para revelá-las a ti." 20Suas palavras agradaram a Holofernes e a todos os seus ajudantes de campo.
Admiraram sua sabedoria e disseram: 21"De um extremo a outro da terra não existe mulher semelhante em
beleza e em inteligência no falar!" 22E Holofernes lhe disse: "Deus fez bem ao enviar-te na frente do povo.
Em nossas mãos estará o poder, e entre aqueles que desprezaram o meu senhor, o extermínio. 23E tu, que és
bela de aspecto e hábil em tuas palavras, se fizeres conforme disseste, o teu Deus será o meu Deus e tu te
sentarás no palácio de Nabucodonosor e serás célebre em toda a terra." 12 1Mandou introduzi-la no lugar
onde era colocada sua baixela de prata e ordenou que lhe preparassem a mesa com suas iguarias e que ela
bebesse de seu vinho. 2Disse-lhe, porém, Judite: "Não comerei delas para que isso não seja motivo de falta
para mim, mas me servirei das que trouxe comigo." 3— "E se acabar o que tens, donde traremos coisa
semelhante para dar-te?", perguntou Holofernes. "Entre nós não há ninguém de tua raça." 4Disse-lhe Judite:
"Viva em paz, meu senhor, pois não acabará o que tenho comigo antes que o Senhor faça por minhas mãos
o que decidiu." 5Os ajudantes de campo de Holofernes conduziram-na à sua tenda. Ela dormiu até meianoite.
Quando chegou a vigília da manhã, levantou-se 6e mandou dizer a Holofernes: "Que meu senhor
ordene deixem tua serva sair para a oração." 7Ordenou, pois, Holofernes aos seus guardas que não a
impedissem. Ela permaneceu três dias no acampamento. De noite, saía em direção da escarpa de Betúlia e se
banhava na fonte, no posto avançado. 8Enquanto subia, pedia ao Senhor Deus de Israel que dirigisse seu
caminho para o reerguimento dos filhos de seu povo. 9Depois de purificar-se, voltava e permanecia em sua
tenda até o momento em que, à tarde, lhe traziam o alimento.
Judite no banquete de Holofernes — 10No quarto dia, Holofernes deu um banquete só para os seus oficiais,
não convidando nenhum dos seus serviçais. 11Disse a Bagoas, o eunuco que cuidava de seus afazeres: "Vai e
convence a mulher hebréia, que está junto de ti, a vir até nós, para comer e beber conosco. 12Seria uma
vergonha para nós deixarmos esta mulher partir sem termos relações com ela. Se não a seduzirmos, rirão de
nós!" 13Bagoas saiu da presença de Holofernes, foi ter com Judite e lhe disse: "Não tarde esta jovem beleza
a vir à presença do meu senhor para ser honrada. Beberá conosco um vinho de regozijo e será, hoje, como
uma das filhas dos assírios que vivem no palácio de Nabucodonosor." 14Respondeu-lhe Judite: "Quem sou
eu para opor-me ao meu Senhor? Tudo o que for agradável aos seus olhos eu o farei e isto será para mim
motivo de alegria até o dia de minha morte." 15Levantando-se, ela se adornou com suas vestes e com todos
os seus enfeites femininos. Sua serva a precedeu e estendeu por terra, diante de Holofernes, as peles que
recebera de Bagoas para seu uso diário, a fim de reclinar-se sobre elas para comer. 16Judite entrou e
recostou-se. O coração de Holofernes foi arrebatado por ela, e seu espírito se agitou. Estava possuído de um
intenso desejo de se unir a ela. Desde o dia que a vira, espreitava um momento para seduzi-la. 17Disse-lhe
Holofernes: "Bebe e alegra-te conosco." 18Respondeu-lhe Judite: "Beberei, sim, senhor, porque nunca, desde
o dia em que nasci, apreciei tanto a vida como hoje." 19E, tomando o que sua serva havia preparado, comeu
e bebeu diante dele. 20Holofernes ficou fascinado por ela e bebeu tanto vinho como nunca bebera em
nenhum dia, desde que nascera.
13 1Quando ficou tarde, seus oficiais apressaram-se em partir. Bagoas fechou a tenda por fora, depois de ter
afastado da presença de seu senhor os que ali estavam. Foram dormir, pois estavam todos cansados por
causa do excesso de bebida. 2Judite, porém, foi deixada sozinha na tenda com Holofernes, que estava caído
em seu leito, afogado em vinho. 
3Judite disse então à sua serva que ficasse do lado de fora do quarto e
aguardasse sua saída, como fazia todo dia. Pois dissera que iria sair para sua oração, e também conversara
com Bagoas nesse sentido. 4Saíram todos da presença de Holofernes, do menor ao maior, e ninguém foi
deixado no quarto. Judite, de pé junto ao leito dele, disse em seu coração: "Senhor Deus de toda força, neste
momento, volta o teu olhar para a obra de minhas mãos, em favor da exaltação de Jerusalém. 5Agora é o
tempo de reapoderares-te de tua herança e de realizares o meu plano, para ferires os inimigos que se
levantaram contra nós." 6Avançando então para o balaústre do leito, que estava próximo à cabeça de
Holofernes, tirou seu alfanje; 7em seguida, aproximando-se do leito, pegou a cabeleira de sua cabeça e disse:
"Faze-me forte neste dia, Senhor Deus de Israel." 8Golpeou por duas vezes o seu pescoço, com toda a força,
e separou a sua cabeça. 9Rolou o seu corpo do leito e tirou o mosquiteiro das colunas. Pouco depois, saiu e
deu a cabeça de Holofernes à sua serva, 10que a jogou no alforje de alimento. As duas saíram juntas, co- mo
de costume, para a oração. Atravessando o acampamento, rodearam a escarpa, subiram a encosta de Betúlia
e chegaram às suas portas.

Judite leva para Betúlia a cabeça de Holofernes — 

11De longe, Judite grilou para os que guardavam as
portas: "Abri, abri a porta! O Senhor nosso Deus ainda está conosco para realizar proezas em Israel e
exercer seu poder contra os inimigos, como fez hoje." 12Quando os homens da cidade ouviram a sua voz,
apressaram-se em descer à porta de sua cidade e chamaram os anciãos. 13Todos se reuniram, do maior ao
menor deles, pois sua volta era-lhes inacreditável. Abriram a porta e receberam-nas. Acendendo fogo para
clarear, rodearam-nas. 14Disse-lhes Judite com voz forte: "Louvai a Deus. Louvai-o. Louvai a Deus que não
afastou a sua misericórdia da casa de Israel, mas que, nesta noite, quebrou nossos inimigos pela minha
mão." 14Tirando a cabeça do alforje, mostrou-a e disse-lhes: "Eis a cabeça de Holofernes, general do
exército da Assíria. Eis o mosquiteiro sob o qual se deitava em sua embriaguez. O Senhor o feriu pela mão
de uma mulher. 16Viva o Senhor que me guardou no caminho por onde andei, pois o meu rosto o seduziu,
para sua perdição; mas não fez comigo pecado algum para minha vergonha e desonra." 17Todo o povo ficou
extasiado e, inclinando-se, adorou a Deus, dizendo a uma só voz: "Bendito sejas, ó nosso Deus, que hoje
aniquilaste os inimigos de teu povo!" 18Ozias, então, disse a Judite: "Bendita sejas, filha, pelo Deus
altíssimo, mais que todas as mulheres da terra, e bendito seja o Senhor Deus, Criador do céu e da terra, que
te conduziu para cortar a cabeça do chefe dos nossos inimigos. 19Jamais tua confiança se afastará do coração
dos homens, que recordarão para sempre o poder de Deus. 20Faça Deus com que sejas exaltada para sempre,
que te visite com seus bens, pois que não poupaste tua vida por causa da humilhação de nossa raça, mas
vieste em socorro de nosso abatimento, caminhando, retamente, diante de nosso Deus." Todo o povo
respondeu: "Amém! Amém!

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